Educação e Corrupção
Revista Caros Amigos


Educar não é natural, é histórico. Um animal é treinado, desde seus primeiros dias de vida, a caminhar, fazer buracos, fugir ou caçar, para sobreviver. Os pais de uma criança freqüentemente não têm a competência para treiná-la no exercício de sobrevivência: eles mesmos não sabem plantar, colher, coletar, construir abrigos ou costurar roupas. Acabam “terceirizando” o processo de ensino, entregando seus filhotes em idade cada vez menor a escolas, creches ou outras instituições educacionais.
Assim, cada sociedade determina como deve ser a intervenção social que deseja fazer em seus novos membros, em função dos valores, crenças e padrões de comportamento que ela possui, imagina possuir ou sonha vir a possuir.
            Supondo que uma sociedade moderna almeje, entre outros valores, a ética nas relações entre os indivíduos, seria de se imaginar que ela, por meio de seus arcabouços de educação formal, buscasse ensinás-la, fazendo com que as novas gerações não fossem corruptas, mesmo que as antigas, em parte, tivessem sido. 
            Dessa forma, morrendo a “geração do deserto”, teríamos uma nova sociedade, conduzida por novos homens e novas mulheres, fruto de um processo educacional que funcionaria como um farol para as novas gerações.
            Contudo, as coisas não se passam bem assim, e por várias razões:
1) a educação formal não é mais tão importante quanto foi no tempo em que informações circulavam principalmente pela palavra escrita no papel, como lembra Postman. Hoje, as pessoas se informam pela televisão e pela internet e não há mais formas de pais e educadores “controlarem” qualidade e quantidade de dados absorvidos pelos mais jovens. Noutras palavras, o monopólio da verdade escapou das mãos das gerações mais velhas;
2) a sociedade extremamente competitiva dentro da qual vivemos “exige” acesso contínuo e intenso aos bens materiais que têm valor objetivo ou simbólico; ao receber a informação de que a importância da pessoa, assim como o nível de felicidade que poderá alcançar, está vinculado à sua capacidade de fruir bens e serviços, o jovem cria um escudo contra discursos incoerentes com aquilo que a sociedade pratica. O discurso ético se esvazia diante de uma prática que ele percebe aética ou mesmo antiética.
            Pior ainda quando o discurso sai da boca de gente que, até então, se apresentava como padrão de moralidade, referência de ética, patrimônio moral.