É verdade que
a situação política por aqui está feia, que tem gente perdendo emprego, que o
dinheiro que falta para a Educação sobra nas mordomias usufruídas por
membros dos três poderes.
É verdade que a Petrobrás é a
única petrolífera do mundo a dar prejuízo, por conta da má administração e da
roubalheira desenfreada, enquanto os bancos privados batem recordes de lucro a
cada semestre.
É verdade que ainda temos
capitais sem um único metro de rede de esgoto e que o estado mais rico da
federação está com falta de água e com sobra de dengue.
É verdade que o álcool
continua sendo consumido descontroladamente, que motoristas irresponsáveis não
param de matar e mutilar milhares de brasileiros, sem que se tome
medidas sérias contra este nosso hábito de “beber socialmente” e dirigir.
Também é verdade que o asfalto das ruas de nossas cidades é esburacado, que os
trajetos são mal sinalizados, que um assaltante pode estar de tocaia em cada congestionamento
e em cada farol fechado.
É verdade que os críticos das
“elites” tomam vinho de 3000 reais (sem problemas, já que a origem do dinheiro são
“consultorias” pra lá de suspeitas). É também verdade que ainda se elogia a
ignorância, que se valoriza a falta de cultura, que ler e considerado chato,
que alegria é quase sempre sinônimo de ruído (sem consideração pelos vizinhos).
É verdade
que resquícios da escravidão estão presentes no nosso cotidiano, no preconceito
nosso de cada dia, no horror que ainda temos ao trabalho físico, no amor ao
bacharelismo. Está presente ainda no paternalismo típico das senzalas que,
em vez de oferecer oportunidades (liberdade, boa escolaridade) prefere ser
paternalista, dando peixes e não ensinando a pescar.
É verdade que remédios custam
mais caro aqui do que na Suíça, camisas mais do que na Itália, brinquedos mais
do que em Orlando, refeições mais do que na França, automóveis mais do que no
mundo inteiro. Já a cachaça e a cerveja são baratas.
É verdade que viver na
periferia (onde a maioria mora) é muito perigoso, que caminhar à noite é
arriscado e que engolir o óleo diesel dos veículos provoca doenças
respiratórias.
É verdade que criamos leis que não pegam, mas
em compensação temos “não leis” que pegam. A pena de estupro nas prisões não
existe no nosso código penal e é aplicada sistematicamente, como se tivesse
sido aprovada pelo legislativo e referenciada pelo Supremo...
É verdade que nossos
motoristas não sabem como dirigir: nas estradas andam pela pista do meio em
baixa velocidade (brasileiro que se preze não vai pela pista da direita); nas
cidades não dão seta, fazem conversões em diagonal, não sabem
que pisca alerta é só quando se para o carro, não usam farol quando devem (e
quando usam, ligam o farol alto), estacionam na frente de garagens e em ponto
de ônibus e não respeitam faixa de pedestres.
É verdade que pais desejosos
de uma boa educação para seus filhos acabam colocando-os em caríssimos guetos
educacionais, onde as crianças estabelecem vínculos exclusivamente com seus
supostos iguais. A escola, que deveria ser espaço democratizante, não passa de
mais uma (talvez a mais importante) reprodutora de desigualdade.
Tudo isso é verdade, e há
muitas outras verdades desagradáveis em nosso país. Por um lado, isto é ruim.
Por outro, isto mostra que há muito para se fazer no
Brasil. Por isso mesmo viver e trabalhar aqui dá uma sensação de que podemos
ser uteis, temos condição de fazer algo
para quem precisa. Há muito por fazer por aqui e isto nos ajuda a dar um sentido
às nossas vidas. Você que está lutando por um passaporte da União Europeia ou por
um Green Card americano, você tem certeza de que quer
viver em um país já constituído, já formado, com sua identidade nacional já
definida, para o bem e para o mal?
Nosso país ainda não está pronto.
Você pode ajudar a construí-lo, colocar a sua pedra, o seu cimento, plantar a
sua árvore, arrancar as ervas daninhas que proliferam por aqui.
Não vá. Fique por aqui com sua
competência e sua honestidade. Melhore nosso país. Ele precisa de você.