Revolução na Educação
Correio Braziliense


É possível promover uma revolução no sistema educacional brasileiro em menos de quatro anos? Talvez não, mas ela pode, ao menos, ser iniciada. Pelo menos é que se espera do novo ministro.

A área tem sofrido muito. A cada quatro anos, durante as campanhas eleitorais, candidatos a cargos executivos lembram-se que educação existe. Lembram ainda que ela é a salvação do Brasil. Que só por meio dela ricos e pobres podem ter as mesma oportunidades. Que sem ela estaremos condenados ao purgatório eterno de país do futuro.

O problema é que, depois de eleitos prefeitos, governadores e presidentes abandonam suas promessas de campanha – na verdade, mantém apenas as promessas feitas aos aliados – e colocam nas secretarias de educação (e no ministério) figuras cuja função será aproveitar as verbas de sua pasta para pavimentar a vitória nas eleições seguintes. Não falta gente em nosso país com ótimas ideias para a educação. Falta implementar, de modo consistente, boas ideias. Falta ter como prioridade na área de educação a própria educação.

Ao contrário do que dizem céticos e mal intencionados é, sim, possível, promover uma revolução na educação brasileira. Um simples olhar sobre as nações que promoveram mudanças profundas em seu sistema educacional mostra que diferentes povos, em diferentes períodos históricos, com diferentes objetivos e diferentes métodos tiveram sucesso nessa empreitada.

O Japão superou sua estrutura feudal apenas durante a restauração Meiji, na segunda metade do século XIX, copiando o que achava importante da experiência ocidental, sem perder sua identidade. Sem a revolução escolar promovida lá não teria sido possível a universalização do ensino, com qualidade. Quase um século depois a Coreia (do Sul) promoveu uma revolução no ensino com escolas em tempo integral para todos. O país rapidamente deixou de ter na agricultura de subsistência a sua base econômica e passou a ser uma nação industrial exportadora de produtos de ponta. Em Israel o ensino universal possibilitou a integração de jovens judeus filhos de pais analfabetos, como muitos oriundos do Iemen e da Etiópia, com outros de famílias ilustradas vindas de países europeus. Após a revolução liderada por Fidel Castro o sistema educacional cubano foi alterado de modo radical, gostemos ou não do regime que lá se implantou.

Enfim, a educação escolar é um instrumento ainda não devidamente aproveitado no Brasil. À universalização necessária do ensino público não houve sequer a manutenção da qualidade existente quando a escola atendia mais a classe média Por conta das condições de trabalho, salário e reconhecimento social de hoje são poucos os professores que dão conta da difícil tarefa de qualificar adequadamente os jovens. Apesar dos esforços isolados de professores, de fundações e ONGs, não há nada de Pátria Educadora por aqui. A solução, para atingir número expressivo de professores e alunos, terá que vir do MEC.

Bons mestres conseguem dar boas aulas com um livro ruim, mas professores inadequadamente formados não conseguem dar boas aulas sequer com um bom livro. A ideia de que “pesquisar” insere os alunos na sociedade do século XXI é ridícula. Isso faria sentido se o aluno tivesse condições de discernir fontes confiáveis de fontes não confiáveis. O aluno de hoje talvez tenha mais informação do que há trinta anos, mas não sabe como transformar isso em conhecimento. Só um professor bem preparado consegue ensinar ao aluno como dar esse passo.

Nenhum país conseguiu dar um grande passo sem investir pesadamente e criativamente na educação. Todas as importantes revoluções educacionais ocorridas no planeta demandaram imaginação criadora, competência administrativa e, principalmente, vontade política. Há que se fazer um mutirão educacional que estimule os professores a se qualificarem. Todas as universidades públicas (assim como as particulares que recebem verbas governamentais de qualquer espécie) com cursos de pós graduação profissionalizante podem ser estimulados a dar uma parte do seu tempo em aulas para os professores do ensino fundamental e médio do Brasil todo, a partir de uma orientação segura (e apolítica, é claro) que sairia dos órgãos competentes e de uma discussão ampla (mas rápida) feita com os educadores interessados.

Isso é possível? Mais que isso, é necessário. Vamos lá, senhor ministro.