Os jornais e o sistema educacional

Em co-autoria com Correio Braziliense

A chegada da internet foi uma ameaça real para os jornais que tiveram suas tiragens reduzidas por conta da fuga de assinantes, leitores e, por consequência, anunciantes. O fim dos jornais chegou a ser anunciado várias vezes. E, de fato, alguns não acompanharam os novos tempos. Alguns matutinos, mesmo não circulando às segundas feiras, anunciavam na edição de terça feira, em letras garrafais, o resultado do principal jogo de domingo, como se alguém esperasse quase 48 horas para saber o resultado do futebol. Para jornais como esses não há mais mercado. Contudo, muitos diários, lá fora e no Brasil, continuam firmes, com muito prestígio e a caixa em dia. Souberam mudar. Levaram em conta que não cabia mais ao jornal apenas ser informativo. Em um mundo em que todos “informam” (mesmo a tia Clotilde do facebook) as pessoas buscam nos jornais análise, articulação entre as notícias, credibilidade. Colunistas criativos, comentaristas inteligentes, jornalistas preparados para selecionar, do universo infindável de notícias, aquelas de fato relevantes para o tipo de leitor daquele jornal. Isso não significa que todos os leitores voltaram. Muita gente passou a consumir a chamada “cultura de internet”. Gente que, quando questionada sobre a origem da notícia, explica que foi “na internet”. Isso equivale a responder “no papel”. Internet é o meio utilizado para passar a informação, não é a fonte, a não ser para os idiotas que não sabem distinguir uma coisa da outra. Há gente que aceita a Wikipédia como substituta de tratados científicos e a informação do amigo do conhecido da prima, aquela, de Santos, como verdade indiscutível, não interessa o alcance da asneira postada. O facebook, para muitos, não é o espaço para se ver o sorriso do novo bebê da prima distante, mas o local onde o ex-colega colégio destila seu ódio contra tudo e contra todos – e o Fernando sempre sabe o que diz... Mas, o importante, é que os jornais estão se movendo, buscando seu caminho, e isso é muito bom para todos. Não tenho essa mesma convicção no que se refere ao sistema educacional brasileiro, que também foi atingido duramente pelos novos tempos e parece que não está se saindo tão bem. Nos séculos da era de Gutemberg, até meados do século passado, a escola tinha uma espécie de monopólio do saber. Era ela que definia se e quando os alunos teriam acesso a determinado conteúdo: Física, só no colégio, Inglês já no ginásio, corpo humano (cruz credo) só após os 14 anos e assim por diante. A sociedade, por meio da educação formal, determinava que para se ver um seio de mulher era preciso ter 18 anos (e mesmo assim frequentar o cine Jussara). Os programas de História “chegavam” até Deodoro da Fonseca ou, no máximo, até os anos 1930... Hoje, crianças e adolescentes são bombardeados com notícias via TV, e sites da internet, mulheres nuas (homens também) e cópulas mais ou menos artísticas, assim como palavrões estão ao alcance de todos. Informações não faltam. Elas chegam de todo lado. Fica sem sentido um professor postar-se à frente da classe e ter a pretensão de informar, metaforicamente, o resultado do futebol de domingo. A sociedade precisa formar professores do nosso tempo, capazes de ensinar os alunos a estabelecer conexão entre as informações, fazer com que elas façam sentido. Um professor que tenha uma formação teórica sólida, capaz de ajudar o aluno a fazer suas próprias escolhas, não um doutrinador barato, nem alguém que imagine poder competir com as mídias sociais. Uma aula com conteúdo não é uma aula cheia de informações, nem um discurso partidário, mas um espaço em que se aproveite coisas já sabidas pelos alunos (o universo cultural do estudante) para passar coisas que eles não conhecem (mas que fazem parte do patrimônio cultural da humanidade), com o objetivo de criar, conjuntamente, novos saberes e dar um passo para a frente. E um detalhe: não é mandando “pesquisar na internet” que os alunos irão crescer. Eles precisam de orientação a respeito de sites confiáveis para que o resultado da investigação faça algum sentido. Devem aprender a diferença entre fontes confiáveis e textos sectários (ou mesmo apócrifos) que impregnam a web. Para isso é preciso que o mestre seja bem formado e atualizado, leia bons livros. Sem leitura qualificada o professor não conseguirá realizar o seu trabalho.

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