Turismo no Brasil? A gente prefere Orlando
Correio Brazileinse


Os dados são oficiais. E assustadores. Turistas brasileiros gastaram em abril mais de 2 bilhões de dólares (US$ 2.116.000,00, mais precisamente) no exterior, enquanto que turistas estrangeiros não despenderam em terras brasileiras mais do que uma quarta parte dessa quantia (exatos US$583.000,00). Que o Brasil recebe muito menos turistas do que Paris sozinha, já sabemos há muito tempo, mas agora tomamos conhecimento que perdemos até para Costa Rica. Quem vê os números pode imaginar que somos um país sem atrativos, o que não é verdade. Temos grandes cidades fascinantes como Rio, São Paulo, Salvador, Recife, Belém e tantas outras, praias de todo tipo, regiões montanhosas em vários estados, turismo rural, de aventura, para casais, para famílias, para paquera. Só não cuidamos de nossas atrações. Um dos lugares mais lindos do Brasil é Itaimbezinho. O nome é tão desconhecido que até o Google dá como palavra errada... No entanto esse cânion impressionante emudece o turista que se aventura a chegar até lá. Não, não fica em algum lugar escondido em alguma mata no norte do país, está em plena serra gaúcha, dentro do Parque Nacional de Aparados da Serra, na fronteira com Santa Catarina, próximo de Torres, no litoral e Gramado na montanha. Reconhecendo a importância do cânion para o turismo o Governo construiu um edifício imponente como apoio aos visitantes. Lá dentro uma funcionária preguiçosa, indicada como aquela que poderia fornecer “informações turísticas” nos disse que bastava seguir as setas indicativas. Não disse o tempo que poderíamos levar para percorrer o trecho até poder ver a cachoeira, não nos avisou que teríamos que atravessar uma porteira, muito menos nos informou o que causara aquela magnífica depressão, nem quando isso ocorrera. Afinal, já era 3 da tarde e dentro de mais duas horas terminava o expediente dela. No salão ao lado da “informante” uma exposição descorada de pôsteres: algumas fotos, alguns números, sem sequência, sem organização, sem nenhum objetivo. Filmes esclarecedores sobre a geologia local? Nenhum. Monitores que pudessem responder perguntas de jovens interessados? Nada. Nem é necessário dizer que os banheiros eram impraticáveis e que não havia nada para comer. Tudo para facilitar a vida do turista. Mas perto de Cambará do Sul existe ainda outra atração, para alguns mais impressionante e bela do que Itaimbezinho, o cânion de Fortaleza, este no Parque Nacional da Serra Geral. Se a infra estrutura do primeiro cânion existe (pelo menos há muitos funcionários remunerados "trabalhando" lá, no segundo a pobreza é tocante: no meio de uma estrada de pedras que nos fazem sentir como mamão em um liquidificador fica um funcionário cuja função é a de anotar placas dos carros e engolir poeira. Quilômetros depois descobrimos que chegamos: a estrada, simplesmente, termina. No hotel recebemos a informação de que, “por ser sábado, muita gente deve ir lá, assim, bastava seguir as pessoas”. Mapas? Nem pensar. Como chegamos cedo e não havia “pessoas” optamos por subir, o que se provou ser uma boa medida. A vista é deslumbrante, permite enxergar um mar de montanhas de um lado, com uma depressão suave e coberta de vegetação (ao contrário do outro cânion que é agreste, quase desprovido de verde) e o litoral de outro. O vento fortíssimo era assustador, mas a caminhada valeu a pena. Aqui, nada nem ninguém. Cada um por si. Eu adorei, mas fiquei imaginando por que não se aproveita melhor esse enorme potencial turístico. Cambará do Sul, uma simpática cidadezinha, ponto de partida para as aventuras nos parques nacionais, já tem algumas pousadas simpáticas e restaurantes razoáveis. Não há, contudo, um atendimento mínimo ao turista, nem por parte do poder público, nem pelo comércio, preocupado apenas em vender comida, combustível, lembranças ou alojamento. Imagine um turista estrangeiro aqui! Na França, que recebe cerca de 80 milhões de estrangeiros por ano, folhetos com mapas e informações de todo tipo estão à disposição do turista em qualquer birosca. Em volta de um pedaço de aqueduto chamado Pont Du Gard, no sul do país, a infraestrutura é tão boa que atrai de turistas comuns a arquitetos e engenheiros, para os quais há explicações técnicas sobre a construção das magníficas obras romanas. O Pont Du Gard é a segunda edificação mais visitada na França. Se tivesse que escolher, eu teria preferido conhecer os cânions brasileiros da Serra Gaúcha. Vamos cuidar do nosso patrimônio turístico? Se não for por uma questão cultural (este tipo de argumento não emociona governantes), pelo menos para equilibrar nossa balança comercial...

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