Como votar no segundo turno
Correio Brazilinese


Muitas cidades importantes do Brasil realizam, nos próximos dias, o segundo turno das eleições para prefeito. Impactados pela propaganda, particularmente a televisiva, eleitores oscilam com dificuldade para decidir-se por este ou por aquele. Democracia é assim, como já foi dito muitas vezes, um péssimo sistema político, com a única vantagem, contudo, de ser menos ruim do que todos os demais experimentados até hoje pelas sociedades humanas. Assim, a responsabilidade de cada eleitor continua grande, é ele que faz a diferença. E como votar pela cara do candidato, ou sob o efeito de emoções profundas, porém passageiras, é um desastre, nada como estabelecer alguns critérios a partir dos quais grandes municípios brasileiros poderão ter dirigentes melhores. Verificar se na plataforma dos candidatos estão previstas soluções para questões do dia a dia do brasileiro é uma forma de ajudar a democracia. Dentre muitas questões importantes que devem ser contempladas pelos candidatos a prefeito finalistas, estão:
1-     Creches: é inconcebível alargarmos o período de licença maternidade, como se o país tivesse uma política natalista, e fazer subsistir um déficit tão absurdo de creches para crianças, particularmente para aquelas que são filhas de mães pobres. A incoerência é evidente. Ou o país sinaliza que não tem interesse em crianças, ou constrói, com urgência, creches para alocar quem não pode pagar centenas de reais (ou até milhares em alguns casos) por mês para “escolinhas” particulares. Qual é a proposta concreta que os candidatos a prefeito de sua cidade têm a respeito deste assunto?
2-     Politíca habitacional: o Brasil está com uma imagem bastante positiva no exterior e há aqueles que julgam já termos ultrapassado a barreira da pobreza. A favelização da maior parte das grandes cidades brasileiras é um dos fatores mais evidentes do erro dessa avaliação a nosso respeito. Sem condições de morar nas áreas centrais da cidade, os pobres constroem casas irregulares em áreas afastadas, onde correm perigo por conta de desabamentos, ausência de esgoto, etc. e prejudicam a todos quando se instalam em regiões de mananciais. Como os candidatos pretendem enfrentar com seriedades este tema?
3-     Transporte coletivo. A absurda política de privilegiar o transporte individual em detrimento do público origina-se do governo federal preocupado com os impostos que recebe das montadoras de automóveis. Nossas cidades maiores, e até muitas das médias, têm um trânsito que obriga o cidadão a ficar horas no caminho de casa para o trabalho. Qual dos candidatos tem projetos viáveis para essa questão?
4-     Calçadas. Em quase todos os países considerados de primeiro mundo a cidade é feita para o cidadão, o pedestre, e não as máquinas. Isto implica em calçadas largas e planas, rebaixadas para a passagem de carrinhos de bebês e cadeirantes (não rampas que interrompem a calçada para facilitar a entrada de automóveis nas garagens). Calçadas largas, não invadidas por guaritas, bancas de revistas irregulares, vendedores ambulantes e, em muitas cidades, automóveis que usam o espaço dos pedestres para estacionar. O candidato em quem você pretende votar no segundo turno vai favorecer as calçadas?
5-      Esporte e lazer. Enquanto em alguns bairros privilegiados das grandes cidades brasileiras há uma profusão de praças e espaços de lazer, em outros, anda-se quilômetros sem se ver uma única árvore plantada, um único local destinado ao lazer de final de semana. As prefeituras não têm a obrigação apenas de providenciar água, esgoto, asfalto e transporte coletivo de qualidade, mas também opções de lazer que possam integrar socialmente os moradores. Não se trata apenas de grades eventos – que também são importantes, é claro – mas atividades para a comunidade, no dia a dia. O seu candidato pensa no cidadão como merecedor de atenção, ou apenas como massa de manobra política?
6-     Ouvidoria. Após o período eleitoral, em que os candidatos comem pastel de feira e beijam criancinhas, os eleitos se recolhem a seu mundo distante da população. Passear pela cidade de helicóptero não dá aos governantes proximidade com o povo que deveriam servir. O mínimo que devem estabelecer é uma ouvidoria bem organizada para que o prefeito estenda seus olhos e ouvidos pela cidade toda. Seu candidato pensou nisso, ou só quer o seu voto para poder montar, em paz, com seus asseclas (desculpe, assessores) a estratégia para a eleição seguinte?


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