Bom lugar para ler um livro
Revista Folha de São Paulo


          A não ser que sejam muito ranzinzas, os saudosistas das livrarias dos anos 50 e 60 devem andar felizes. "Elas" estão voltando. Sim, quase não existe mais a figura do livreiro proprietário. Mas é inegável que os empresários da área se deram conta de que vender livro não é a mesma coisa do que vender nabo.

          Já se encontram atendentes bem treinados, dotados de cultura adequada, aptos para orientar os clientes. E o leitor, depois de ser atraído pela capa, pelo título, pelo autor, pode dar uma lidinha no livro antes de comprá-lo.

          Para isso, as novas livrarias da cidade têm tido a preocupação de criar um espaço onde esse test-drive possa ser feito tranqüilamente. De resto, ler em livraria é muito bom. O livro é novo, não tem ácaro. O local é quase sempre silencioso. A luz, adequada. E, fora das próprias casas, onde é que se vai ler?

          Antigamente, lia-se em bancos de jardim. Quando eu era criança, ia com meu primo Waldo estudar no longínquo Horto Florestal: a tia Ana preparava sanduíches de frango e passávamos o dia "rachando.

          Hoje, as pessoas têm medo dos espaços públicos. Nas estações rodoviárias e nos aeroportos, avisos constantes e TVs sempre ligadas não propiciam a leitura. Nos ônibus, rodando aos solavancos pelas ruas esburacadas de São Paulo, e no "metrô-sauna" que possuímos, ler é uma prática nem sempre confortável. As livrarias são uma boa opção

E, para os viciados em livro, a cidade está oferecendo agora uma atração especial: a Bienal Internacional do Livro, no Anhembi. A de número 20, por sinal -o evento já existe há quase quatro décadas.

          Antigamente, nos anos 70, ela era realizada no pavilhão da Bienal do Ibirapuera. De pequena feira, foi ganhando corpo a ponto de se expandir pelo parque todo. Principalmente quando havia lançamentos de livros de celebridades, como foi o do jogador de vôlei Giovane, em 1994, obrigado a autografar para suas tietes na parte externa do edifício, para não provocar tumulto. O último dia da Bienal no Ibirapuera provocou um congestionamento de trânsito imenso, pouco usual naquela época. Ela foi para o Expo Center Norte, na Vila Guilherme. Lugar pouco charmoso, diziam. Nova mudança, agora para a zona sul, no caminho de Santos, e, finalmente, no endereço atual.

          Quem sabe a prefeitura não desapropria o Jockey Club e constrói lá um belíssimo complexo cultural, com parque de exposições e todo o resto? Por enquanto, o melhor que temos é mesmo o Anhembi.

          Para quem acha que o livro está morrendo, alguns dados: nesta Bienal, houve um recorde de expositores e de metros quadrados de estandes. O número de lançamentos também é recorde. Nunca, no Brasil, tantos livros, novos ou não, estiveram à disposição dos leitores.

          A simples idéia de encontrar num mesmo teto mais de 200 mil títulos me deixa excitado. E não posso deixar de pensar em roupas confortáveis, sapatos velhos, garrafinha de água na mão e cartão de crédito na carteira para enfrentar adequadamente a maratona aeróbico-cultural. Se não for agora, só daqui a dois anos.

 



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