Dicas de filmes históricos
revista Aventuras na História, 2006


A revista Aventuras na História solicitou uma lista de 10 filmes históricos fundamentais acrescidos de um comentário de três linhas para cada um. Os dez viraram doze (e há muitos mais). As três linhas, quatro e até cinco. Deus me deu a capacidade de síntese, mas, com limites. A lista pensou em importâncias de diferentes tipos, inclusive a de tratar da história do cotidiano.
 
1- A lista de Schindler O filme navega entre a narrativa histórica confiável e equilibradas doses de emoção. E, melhor que tudo, dá a dimensão do que aconteceu aos judeus e aos alemães, uns sendo esmagados, outros esmagando, mas ambos se desmoralizando no processo. Nesse aspecto é mais amplo e completo do que O Pianista, por exemplo.
 
2- As bruxas de Salem : belíssimo filme sobre a intolerância oriunda de verdades ditas absolutas e inquestionáveis. Dá conta de aspectos da formação da sociedade americana, que se tornam fundamentais para entender o comportamento atual da política interna e externa dessa nação.
 
3- Casanova e a Revolução : belo exemplar de filme que conta a História "por dentro", isto é utiliza-se da micro-história para narrar a macro-história. De resto, é uma obra de mestre, sobre um período fundamental da história do mundo ocidental.
 
4- O Grande Ditador: embora Chaplin tenha outros filmes "históricos" fantásticos, como Tempos Modernos (que trata do fordismo), este é um filme genial que não pode ficar fora de qualquer lista. Sua imitação de Hitler faz parte de qualquer antologia do cinema.
 
5- Queimada: este é o grande filme sobre o colapso do sistema colonial e a hegemonia inglesa. Inteligente, articulado, fantasticamente protagonizado por Marlon Brando, Queimada deveria ser obrigatório para todos os estudantes a partir de 11 anos de idade.
 
6- Reds: mais de três horas de duração, três oscars conquistados por este surpreendente filme que conta sobre a Revolução Russa de outubro de 1917 pela ótica de um jornalista americano. As coisas ficam mais difíceis quando ele resolve levar a revolução socialista para o seu país de origem.
 
7- Spartacus (tem que ser o original, de 1960, com Kirk Douglas protagonizando e direção de Stanley Kubrick): idealização dos escravos romanos, a partir do livro homônimo de Howard Fast. Mesmo assim, raro exemplar de desconstrução da estrutura de poder de Roma e de percepção dos limites da luta política por parte dos escravos.
 
8- 1900: Epopéia que narra o processo de conscientização de camponeses italianos submetido aos grandes senhores, durante a primeira metade do século XX. Saga feita com a habitual competência de Bertolucci, idealiza os oprimidos, sataniza os ricos, mas é grande cinema e excelente referência histórica.
 
9- Uma cidade sem passado: filme eletrizante mostra pesquisa histórica imbricada com o cotidiano dos habitantes de uma pequena cidade alemã depois da Segunda Guerra Mundial. Diferenças entre História e memória, subterfúgios para esconder documentos e criar uma História oficial, tudo se cruza nesse filme alemão extraordinário.
 
10- Adeus, Lênin: outro filme alemão extraordinário mostra o fim do socialismo real e seus reflexos numa família cuja matriarca tinha sido uma militante comunista convicta. Cruel, irônico e brilhante.
 
11- A última ceia: não confundir com um americano homônimo. Este é do cubano Thomas Gutierrez, de 1978, e lida com a relação entre os senhores brancos e os escravos negros. Trabalha tanto com a questão do poder como com a ideologia engendrada a partir dessa prática e vale para qualquer país onde a escravidão tenha desempenhado um papel importante, como o Brasil.
 
12- Como era gostoso o meu francês: Nelson Pereira dos Santos em grande estilo. O encontro de portugueses, franceses e índios, em pleno século XVI, num filme curiosamente falado em tupi, com legendas. Para entender a formação do Brasil.